domingo, 26 de abril de 2009

Pesquisadores da USP tentam certificar o fosfogesso como material estrutural

Brasília, 24 de abril de 2009.

Viga de gesso composta por elementos de gesso protendido

Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Física da USP de São Carlos com o fosfogesso pode revolucionar a construção civil no Brasil. Cientistas da instituição estão realizando testes que comprovam que o fosfogesso (sulfato de cálcio obtido na produção de fertilizantes) pode ser utilizado como material estrutural. A descoberta pode auxiliar na construção de habitações populares de baixo custo.

Segundo o aluno de doutorado e Engenheiro Civil Wellington Kanno, os testes demonstraram que o fosfogesso pode alcançar resistência de até 70 MPa, um número muito superior ao concreto de alta resistência (40 MPa) e ao concreto comum (20 MPa).

Com o processo de tratamento do fosfogesso desenvolvido na USP, batizado de UCOS (Umedecimento, Compactação e Secagem), os pesquisadores obtiveram elementos cerâmicos de alta resistência.

“Outra vantagem, além da resistência, é a questão ambiental. O fosfogesso, geralmente,  é descartado em aterros. Além disso, a produção de cimento é muito danosa ao meio ambiente. Calcula-se que a produção de 1 tonelada de cimento gere 3 toneladas de gás carbônico”, afirma Kanno.

O Brasil possui 150 milhões de toneladas de fosfogesso em aterros, o suficiente para construir 50 milhões de casas populares. O déficit habitacional do país é de 17 milhões de unidades, sendo 7 milhões de famílias sem casas e 10 milhões vivendo em habitações precárias.

A resistência do material já foi comprovada. Agora, os pesquisadores da USP realizam testes para verificar o grau de deformação do material, ao longo do tempo, quando submetido a condições específicas.

O próximo passo da pesquisa é obter a certificação do material de construção junto ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o que poderá tornar o fosfogesso para a construção civil comercializável.

“Precisamos utilizar o concreto, que é um material nobre, apenas em obras nobres, como grandes edifícios. O concreto tem suas virtudes, mas não deve ser utilizado em qualquer situação, sobretudo quando há um substituto para ele”, argumenta Kanno.

Material 100% reciclável

O fosfogesso também é um material que pode ser reciclado. No caso de uma demolição, o material não se torna entulho, como em uma construção de concreto. Pode-se reaproveitar o fosfogesso, utilizando o mesmo processo UCOS.

Os pesquisadores construíram, há dois anos, uma casa experimental utilizando a tecnologia. Enquanto a média do preço das habitações populares é de R$ 500 por metro quadrado, a casa da USP São Carlos custou R$ 400 pela mesma área.

Thiago Tibúrcio
Equipe de Comunicação do Confea

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